Alice Vieira nasceu em Lisboa. É licenciada em Germânicas e a partir de 1969 dedica-se profissionalmente ao jornalismo. Em 1989 decide dedicar-se por inteiro à escrita.
Capítulo Um
Diziam os grandes livros de leis do Reino das Cem Janelas que a crise, quando nascia, era para todos. Ou seja: se faltava comida na mesa do ferreiro, também faltava comida na mesa do juiz; se entrava água em casa do pedreiro, também entrava em casa do físico da corte.
Capítulo Dois
Havia no Reino das Cem Janelas uma bruxa de estimação. Dizia-se que tinha assistido à formação do reino. Dizia-se até que em tempos namorara el-rei Tadinho, e que fora para bruxa no dia em que este, ignorando a sua paixão, decidira casar com a princesa Ritelá, de um reino que nem sequer vinha no mapa, a qual podia não ter poderes mágicos, mas tinha uma conta no banco que dava gosto ver.
Capítulo Três
Foi a meio de um longo e fastidioso Conselho de Ministros, com a chuva a bater nos vidros das janelas, que el-rei Tadinho deixou cair pesadamente a mão sobre a mesa, e declarou solene.
Capítulo Quatro
Foi numa tarde de Inverno (o que chovia, santo Deus!) que Riquezas sentiu, pela primeira vez na sua vida, a falta da matemática. Até esse dia, verdade se diga, nunca a matemática lhe tinha feito falta nenhuma: encantava e desencantava perfeitamente sem a ajuda dos números. Bastava-lhe a varinha de condão.
Capítulo Cinco
Fosse pelo cansaço provocado pelo esforço daqueles dois anos a ler cartas, fosse por que motivo fosse, a verdade é que el-rei Tadinho acordou na manhã seguinte sem qualquer ideia luminosa.
Contributo de Cadjali Júnior Seidi, 5ºE, Nº7